Acompanhando a romaria da vaca fujã – que desta vida só queria voltar para trás, de onde viera – entre trotes, disfarces, galopes, por pastos, cerrado e rio, se desvencilhando de povoados e cavaleiros que pudessem interromper sua decidida cruzada, vamos e vamos, aos trancos e barrancos, como que montados em seu lombo.
Ela tinha uma só querência – chegar nas terras de um Major Quitério, na fazenda do Pãodolhão, vindo da Pedra, “madrugadamente”, sem mais tardar. E ela “seguia, certa; por amor, não por acaso” – descreve Rosa – o caminho à busca de seu lugar sagrado: um sem-número de pontos e vírgulas e travessões pontuam a sequência incessante dos passos quadrúpedes da vaca. E vamos e vamos, na garupa do escritor.
Lá atrás, segue-a um trôpego cavaleiro ao seu alcance – ia desconhecidamente (como que?) seguindo o seu destino, (in)certo, talvez mais por acaso do que por amor. Mesmo assim, “deu patas à fantasia”, sem saber ao certo o porquê. Enquanto isso, lá ia a vaquinha, “três vezes esperta”, que “transcendia ao que se destinava” – ao pé-da-letra, ela desaparecia na paisagem, mas, num jogo de significados, o destino da vaquinha representaria uma outra espécie de destino para o cavaleiro, que ainda diz, mais adiante: Seja o que seja. O que será, será.
Já reunidos no e pelo destino, vaca, cavaleiro e as quatro moças da casa: a uma delas, ele era o “bem-chegado” – mais do que bem-vindo: o bem-chegado. A moça e ele – inesperavam-se? Aquilo mudava o acontecido. Amavam-se.
A vaca, o cavalo, o moço, a moça –“vitória, em seus ondes, por seus passos” – nas patas do destino.