Quando vejo hoje a facilidade que se tem de acessar os mais variados dicionários online, não posso deixar de comparar toda essa modernidade com os árduos tempos de exercer o ofício de tradutor no passado não tão longínquo. Como era complicado acessar certos termos, principalmente os técnicos, em dicionários de bibliotecas, tanto de universidades quanto de empresas para as quais eu prestava serviços de tradução nos idos anos 1970/1980 e até 1990, quando apenas se começava a ter acesso a computadores, mas sem a internet de hoje. Quando porventura eu encontrava os termos na minha própria biblioteca caseira era um alívio, mas dicionários não eram baratos e não era possível ter tantos assim sendo as terminologias tão variadas quanto as especialidades. Imagine ter em seu acervo pessoal bons dicionários de engenharia (e suas várias subdivisões), de medicina, dicionários jurídicos e de aeronáutica, dentre tantas outras áreas de conhecimento. Isso quando eram passíveis de serem encontrados no mercado. Lembro-me também de uma pesquisa que eu precisei fazer junto aos altos-fornos, técnicos e engenheiros da então Belgo Mineira para ter acesso ao jargão usual de siderurgia e metalurgia. E quando eu era tradutora técnica na Embraer? Foi a nossa própria equipe de tradutores de francês/ inglês /português que compôs os dicionários da Embraer, empregando os conhecimentos aeronáuticos já adquiridos pela experiência no ramo, e isso tudo nos meados da década de 1980, quando ainda trabalhávamos sem o auxílio dos computadores, que ainda representavam uma certa “ficção científica”, pelo menos aqui no Brasil. Todas as nossas traduções eram manuscritas, bem como os dicionários que, depois de dispostos em planilhas (de papel), iam para o prelo da gráfica da própria empresa.
Nos tempos atuais, o serviço do tradutor é muito facilitado. Temos não só excelentes dicionários online como também uma biblioteca virtual em que tudo é encontrável, só dependendo da qualidade do pesquisador por trás da tela do seu Personal Computer ou de seu iPhone – um telefone, uma televisão, um editor de texto, um tocador de música, uma câmera, tudo em tempo real! Embora eu não tenha saudades das dificuldades, gosto de me lembrar desses tempos jurássicos do campo da tradução. Se atravessamos essa era de tecnologia primária para a era do “homus digitalis” em questão de menos de meio século, imagine o que ainda está por vir!