A Novafala ou Novilíngua, cunhada por George Orwell em sua obra 1984, é um importante componente de sua obra distópica que ilustra um futuro totalitário para a humanidade e que infelizmente parece estar despontando em nosso horizonte. Essa língua inventada é constructo tão importante da narrativa que mereceu uma breve descrição do autor no apêndice. Em tempos de narrativas, quem tem olho é rei. Novafala era o idioma oficial da Oceânia, concebido para atender às necessidades ideológicas do Socing, ou Socialismo inglês, e para substituir, paulatinamente, a Velhafala (ou o inglês padrão) até o ano de 2050. Além de implantar um meio de expressão ideológica do partido, seu grande objetivo era inviabilizar todas as outras formas de pensamento, esterilizando e reduzindo ao máximo o vocabulário para atender às necessidades da nova ordem. Pensamentos hereges, ou seja, aqueles que divergissem dos princípios do Socing, seriam assim banidos e literalmente impensáveis. Palavras como “livre” eram proscritas, ou então, só sobreviveriam se empregadas em determinados contextos toleráveis ao Socing como em “o toalete está livre”. O outro sentido como em “politicamente livre” ou “intelectualmente livre”, ou seu substantivo empregado como em “liberdade de expressão” era esterilizado de seu valor semântico contextual, pois as liberdades políticas e intelectuais já não existiam nem como conceitos. Uma verdadeira guerra de narrativas era travada para o sucesso da imposição do Socing. O objetivo da robotização reducionista da fala/da língua era a não sobrevivência de palavras que não fossem imprescindíveis para a comunicação segundo a nova ordem. Orwell segue descrevendo as três categorias: vocabulário A, vocabulário B e vocabulário C, distintos entre si, mas que obedeciam às mesmas regras. Suas óbvias implicações tradutórias também serão abordadas na próxima seção desta série.
Marie-Anne Kremer/Mestre em Linguística e Doutora em Literatura Comparada pela UFMG