Quando falamos de gênero, imediatamente nos vem à mente a palavra sexo, nas suas versões masculino e feminino. Logo depois, lembramo-nos possivelmente da genética que estudamos na escola.
Na genética, se o feto tiver XX, nasce uma fêmea e se XY, um macho. Portanto, fica bastante claro que o principal fator para a determinação do sexo é a presença do cromossomo Y, o marcador Y (masculino), ou seja, se o marcador não acontecer, nascerá uma fêmea, XX. Ponto para o domínio masculino.
Na língua portuguesa ocorre o contrário: o único gênero que recebe marcação é o feminino sendo, portanto, uma particularização do masculino. Etimologicamente, no entanto, o gênero masculino é, na verdade, um gênero neutro (vide Joaquim Mattoso Câmara Jr. em pesquisas sobre linguagem desde a década de 1940), que só deixa de ser neutro porque o marcador do feminino acontece para fazer a diferenciação, que é a terminação “a”, formando o feminino. Ponto para as feministas.
Ora, se formos à raiz das coisas, veremos que esses são movimentos naturais: na língua portuguesa, o masculino é, em sua origem, desinência do neutro, ou seja, sem marcador. Assim sendo, o que fará a diferenciação é a desinência “a” que vem a marcar o gênero feminino. Por outro lado, na genética, quem manda é o cromossomo Y – com a sua marcação, “perdem” as feministas, pois o macho ganha a batalha. Apresenta-se assim uma paridade dos sexos e todos ficam satisfeitos. Mesmo para os transgêneros, não há sempre a mesma dualidade feminino/masculino? Não há neutralidade! Só se o ser for assexuado.
Brincadeiras etimológicas e biológicas à parte, por que não deixamos em paz a gramática como ela foi gerada? Alterar esse DNA pode trazer consequências catastróficas porque a natureza não dá saltos, tampouco a gramática nem a sintaxe, tão particulares em cada idioma, baseadas na evolução natural da língua. Anomalias gramaticais artificialmente introduzidas geram uma espécie de manipulação frankensteiniana, artificial e remendada.